26 de nov. de 2010

Crise na Irlanda - Irish Crisis


Há duas semanas começaram os boatos que a Irlanda iria pedir ajuda ao FMI e a União Européia para não quebrar. De lá pra cá é um assunto está na mídia do mundo todo, inclusive no nosso Brasil. Daqui de Dublin venho acompanhando algumas notícias em portais do Brasil e outros blogs e foram surgindo várias perguntas por e-mail. Pensando nisso decidimos fazer esse post sobre a tal crise.

Após a independência da Irlanda em 1948, o país passou por grandes dificuldades financeiras fazendo com se tornasse uma dos países mais pobres da Europa Ocidental, provocando emigração em massa.

Os anos foram passando e a economia foi melhorando até que na década de 90 aconteceu o milagre econômico irlandês, também conhecido como Tigre Celta. Entre as principais razões aceitas para tal ‘milagre’, estavam a construção civil, a política de redução de impostos e o aumento de incentivos para atrair capital estrangeiro, além de décadas de investimento constante em educação de qualidade. Um país com baixa tributação, força de trabalho altamente qualificada, tendo inglês como língua oficial e sendo membro da União Européia, acabou se tornando uma excelente opção para grandes empresas multinacionais investirem seu dinheiro e fez com que a Irlanda se tornasse uma das maiores potências econômicas da Europa.

E com a economia irlandesa crescendo e o aumento de investimento estrangeiro no país entre a década de 90 até 2007 fez com que os preços das propriedades aumentassem em todo o país. Os bancos irlandeses aproveitando dessa grande fase cediam empréstimos a construtoras e pessoas físicas sem praticamente exigir garantias.

Com essa política de empréstimos desmedidos ficou fácil para a população pegar empréstimos e comprar casas, já que o setor imobiliário era uma opção com ótimos rendimentos. E quem vivia numa vida humilde começou a ver a cor dos “Euros” em sua conta bancária. E muitos não estavam satisfeitos em comprar apenas uma casa e compraram algumas outras para ter uns ganhos extras com aluguel já que o preço estava nas alturas devido ao aumento da imigração de pessoas do mundo todo atrás de empregos.

A valorização dos imóveis era muito atrativa por caminhar a passos tão largos, mas com o passar do tempo, os passos acabaram sendo mais largos até do que as próprias pernas do país. O preço dos imóveis começou a baixar, e quem comprou uma casa com um valor bem elevado viu seu capital despencar da noite para o dia, e assim sem dinheiro para pagar seu empréstimo como na época de vacas gordas.

Do outro lado os bancos se viram sem liquidez para honrar os depósitos de seus clientes e se viram obrigados a recorrer ao capital estrangeiro. Os bancos foram irresponsáveis por emprestar sem medida, mas as pessoas são culpadas na mesma proporção, porque tomaram empréstimos sucessivos e nunca se preocuparam em como pagar.

E o cenário não mudou, até que em setembro de 2008 o governo irlandês, com sua política de protecionismo, decidiu proteger os bancos nacionais, garantindo o pagamento de praticamente todos os compromissos devidos por eles.

Em setembro de 2010, o governo irlandês poderia ter tomado a decisão legal de encerrar as garantias, o que transformava a dívida em ações dos bancos devedores, porém o mesmo decidiu honrar sua palavra e pagou 55 bilhões de euros em títulos bancários, o que deixou feliz seus credores ingleses, franceses, alemães e ricos banqueiros e que derrubou a economia irlandesa chegando a situação que está hoje.

Na última quinta-feira, dia 24/11/10, o governo depois dessa burrada que fez no último setembro anunciou o plano de recuperação nacional que irá adotar nos próximos 4 anos para começar a valer em 2011. Aumento dos impostos, demissão em massa do funcionalismo público, cortes dos benefícios sociais e diminuir o salário mínimo em 1 euro.


O salário mínimo que até então era o maior da Europa irá diminuir 1 euro e passará a valer €7,65.  A proposta de aumentar os impostos contempla a criação de um imposto sobre propriedades, o aumento do custo das universidades e a introdução de impostos sobre o fornecimento de água. O imposto de renda também deve ser elevado, assim como as taxas aplicadas. Haverá demissão de cerca de 24.500 funcionários públicos e a redução do seguro desemprego e auxilio maternidade. 

Até que essas duas últimas medidas eu até concordo. Cada irish que não tem emprego recebe do governo €200 por semana para não fazer nada, e acreditem, é vitalício, o seguro vale até que o camarada arrume outro emprego. A maioria prefere ficar ganhando esses €200 por semana do que encontrar outro emprego. O auxilio maternidade é outro problema, pois cada filho que tiver recebe €400 por mês, então é comum ver mulheres novas com mais de um filho.
Essas são algumas medidas que o governo irá implantar para diminuir o déficit irlandês para os próximos 4 anos.
Agora nosso ponto de vista daqui de Dublin para essa crise: Não sabemos como irá ficar em 2011. Acredito que será um pouco mais complicado que a situação que passamos esse ano de 2010 quando chegamos aqui. Até o momento, nem eu, nem a Lili e nem algum amigo próximo sofremos algum reflexo dessa crise. Muito pelo contrário, as contratações para o Natal ainda estão em alta. Vi esses dias uma notícias na internet que milhares de brasileiros estão voltando para o Brasil devido a crise. Acredito que estão voltando porque o visto venceu ou porque já faziam planos para voltar por agora, já que em duas semanas de crise é pouco tempo para ter perdido o emprego, ter acabado o dinheiro e ainda conseguir remarcar a passagem tão rápido para voltar. Creio que o próximo ano, quando o governo aplicar essas medidas terá um aumento no número de desemprego, porém no nosso caso de imigrantes vivendo um intercâmbio e trabalhando em sub-emprego talvez não mude muito por um tempo, mas depois desse tempo os Irish serão obrigados a se submeterem em sub-empregos fazendo com que a imigração diminua.
Esse é nosso ponto de vista por agora, já que o futuro está incerto para 2011.

Esperamos ter ajudado um pouco a entender essa crise irlandesa e respondido algumas dúvidas e ficamos na torcida para que essa crise passe logo.
Um grande abraço!
:D

Um comentário:

  1. Lili e Somália, adoramos o cartão de natal que vcs nos enviaram, ficamos felizes!!Aproveitei que ontem sai com sua mãe, somália, e levei o cartão pra ela ver!!Nos divertimos bastante.. hehehe fomos pra night!saudades!! beeeijos

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